Na grande floresta de Grínkor, vive uma tribo de crianças que chamam a si mesmo de "
caaporas" (
ka'á + pora = habitante da floresta). Nas cidades macebóis vizinhas à floresta, é mais comum chamá-los de "o povo da mata".

Inicialmente, eles moravam em casas construídas entre os galhos de árvores frondosas, no entorno de uma taba chamada
Tabypy (
taba + ypy = primeira aldeia). Quando essas árvores morreram, Tabypy foi abandonada e tornou-se uma tapera. A maioria de seus habitantes migrou para o sul da floresta, onde fundaram
Ybyraoketá (
ybyrá + oka + etá = muitas casas de árvores), uma taba que segue a mesma arquitetura de casas nas árvores de Tabypy. Mas, alguns caaporas preferiram erguer aldeamentos noutras partes da floresta, não necessariamente entre os galhos de árvores. Assim surgiram, entre outras, as cidades de
Emaém (
E-ma'ẽ! = veja!; em referência à beleza da paisagem),
Ipopiraçuí (
I por pirá suí = cheia de peixes),
Guarinindaba (
guarinĩ + taba = aldeia dos guerreiros),
Ybytyratá (
ybytyra + tatá = montanha de fogo, vulcão),
Tukatu (
tura + -katu = boa vinda),
Sugûypirangapé (
Sugûy + piranga + apé = caminho do sangue vermelho; referência ao rio Artéria) e
Jaguacuara (
Îagûara + kûara = esconderijo da onça). Ybyraoketá foi escolhida como sua capital, em deferência ao estilo de sua antiga Tabypy.
Eles usam roupas simples, trançadas com fios de
cauuma (
ka'á + u'uma = planta macia) e têm a pele acastanhada. Alguns gostam de se ornar cordas atadas aos braços e tornolezos, além de pinturas em padrões geométricos pelo corpo. Eles veneram
Ka'a'anga Py'aoby (
ka'á + 'anga + py'á + oby = espírito da floresta coração verde), aquele que as demais crianças chamam de Grínkor, o Espírito da Floresta.
O idioma dos caaporas é o
Abanheenga (
abá + nhe'enga =
língua de gente), mas a maioria deles também sabe se expressar mais ou
menos bem em Nortenho. E alguns de seus pajés e xamãs alegam ser capazes
de falar diversas
Soonheengas (
so'ó + nhe'enga = língua de animal).
São amantes de histórias e lendas, e boa parte de sua cultura gira em torno da preservação e transmissão dessas histórias. Grande destaque em sua sociedade tem o sacerdote ou sacerdotisa que carrega o título de
Mombeú Mboeçara (
mombe'u mbo'e-sara = mestre do narrar), que se encarrega de garantir que as crianças caaporas nunca percam a imaginação, caso o espírito mau
Moangu (
moanga + 'u = comer ideias) tente comer seus sonhos.
Por apreciarem as histórias, sempre receberam muito bem os visitantes d'além-floresta, especialmente quando estes vêm em buscas e aventuras. Sua gentileza frequentemente era retribuída com algum presente, muitos dos quais não lhes serviam no dia-a-dia. Eles, assim, resolveram que dariam esse presente à próxima busca de crianças que os visitasse. Tal costume deu origem à
Jetanonga (
îetanonga = dar oferenda, presentear), a cerimônia de troca de presentes entre uma busca do passado e outra do futuro intermediada pelos caaporas.
Mas não pense que eles são um povo tímido, pois também têm suas desavenças com os macebóis e entre eles mesmo. O mais doloroso desses conflitos levou à uma divisão de seu povo: as aldeias Guarinindaba e Jaguacuara uniram-se e pelejaram contra as demais, pois seu chefe
Akangatã (
akanga + atã = cabeça dura) queria ser coroado líder dos caaporas. Akangatã perdeu essa guerra, mas aliou-se aos macebóis e declarou-se líder dos
poretés (
pora + eté = povo legítimo); já os caaporas passaram a considerá-los rebeldes
tobajaras (
tobaîara = inimigo).
Em
O Rei Adulto, você conhecerá um pouco mais sobre os caaporas e seu papel na busca de Êisdur.
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Todas as etimologias apresentadas acima são do tupi antigo, tomado como idioma para representação do Abanheenga. Você pode aprender o tupi antigo a partir dos livros do Prof. Eduardo Navarro ou do já esgotado Curso de Tupi Antigo, do Padre Lemos Barbosa.