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domingo, 31 de julho de 2016

Criatividade, Fantasia e Imaginação

Há autores que nos inspiram e cativam por serem capazes de traduzir em palavras todo o maravilhamento e estranhamento do ambiente, ora físico, ora psicológico, no qual nossa existência vai se enredando. A inspiração pode estimular a busca por novas respostas, aproveitando o caminho seguro que eles indicam.



A leitura da obra de quatro grandes escritores, em diversos momentos de minha vida, estimularam-me a escrever O Rei Adulto: Michael Ende, Monteiro Lobato, J. R. R. Tolkien e J. M. Barrie. O resultado desse amálgama é uma apaixonante história que valoriza a criatividade, a fantasia e a imaginação.

Michael Ende foi o principal inspirador desta história, que nasceu de forma embrionária após a leitura de A História Sem Fim (Die Unendliche Geschichte). Ende desenvolve a mensagem em A História Sem Fim de que devemos contar e recontar histórias para que a Fantasia não desapareça. Mas enquanto A História Sem Fim trata do mundo da Fantasia humana, explorado por uma criança, O Rei Adulto descreve especificamente o mundo da imaginação infantil e suas conexões por vezes tênues com o mundo real.

Outra grande fonte de inspiração foram as histórias infantis de Monteiro Lobato, que li dos 9 aos 12 anos de idade. Vem daí o gosto pela Língua Portuguesa, a valorização dos mitos brasileiros presentes em O Rei Adulto, as estórias menores narradas pelos personagens a eles mesmos, como Emília e o Visconde de Sabugosa faziam, e a ligação entre magia e imaginação, que estende o conceito do pó de pirlimpimpim.

De Tolkien, intensifiquei a paixão pela linguística e pelos mapas, aliando-os à narrativa, além do cuidado em construir o universo ficcional e seu contexto histórico que retroalimentará conflitos ao longo de uma aventura épica.

Por fim, o Peter Pan de J. M. Barrie apresenta uma empolgante ode ao espírito juvenil e a relutância de Peter em deixar a infância. Esse tema é retomado de forma crítica em O Rei Adulto.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Em qual reino você morava quando criança?



Mundo das Crianças ou Mundo Mirim. Ambas as denominações são usadas como sinônimos no romance O Rei Adulto. Esse mundo é representado como uma realidade paralela; como se as crianças, ao reunirem-se para brincar, deixam o mundo físico e penetram num mundo de fantasia próprio apenas delas.

Nesta história, o Mundo Mirim é dividido em seis reinos soberanos, além de duas regiões que buscam a independência. Conheça as características principais de cada um deles.

Teres. É onde nossa história se inicia. É um reino relativamente insosso, pois sua principal característica é estar no ocidente e fazer fronteira com o Sul Ignoto. Sustenta-se com comércio entre os demais reinos e expedições que seguem para o Sul Ignoto. Tem um quê de “Novo Mundo”. É para Teres que os aventureiros afluem em busca de riqueza. Sua capital encontra-se a oeste dos Montes Baixos, o que isola bastante seu centro político dos demais reinos. Tem fama de ser um reino de roceiros e gente interiorana, sem requinte. Foi formado pela união de diversos reinos menores, alguns rivais entre si, mas conquistados e submetidos.

Guaipur. É o único reino que efetivamente tem fronteira marítima. Sua ligação com o mar é forte desde a sua origem, de modo que sua cultura privilegia a aventura no mar, corsários, piratas, serpentes e  ilhas do tesouro. As crianças guaipurinas não dão muita atenção aos assuntos das crianças dos reinos vizinhos.

Landau. É um país pobre, espremido entre Teres e Ístar. Já foi maior no passado, porém teve parte do território tomado por Ístar após a Guerra das Águas. Essa mesma guerra castigou-o tanto que as crianças landaucas se revoltaram, derrubaram a monarquia e instituíram a República Infantil de Landau. Por serem a única república entre duas fortes monarquias expansionistas, são muito fechados e desconfiados. Assuntos internos quase não são conhecidos fora de suas fronteiras. Crianças dos demais reinos os consideram esquisitos e perigosamente revolucionários.

Macebólia. É um reino muito fragmentado em subregiões, pois a Floresta de Grínkor ocupa quase todo seu território, deixando várias partes isoladas com respeito à capital. Foi formado pela união de quatro reinos rivais, e essa rivalidade ainda persiste entre a parte norte e sul do reino, uma vez que a Guerra das Águas isolou o Norte e o Sul, após as terras que os uniam serem conquistadas pelo Tamatich. Seus habitantes têm fama de serem metódicos, laboriosos e inventivos. Também gostam de uma boa comida e muito sono.

Ístar. Todos os demais reinos consideram-no como o reino vilão. Ao menos é assim que ele é tratado no começo da história, até os aventureiros chegarem a Ístar e descobrirem que isso é apenas um estereótipo. De fato, Ístar tem gosto por conquistas territoriais e bravatas e, nessa questão, sempre esteve tecnologicamente à frente dos demais. É composto por duas culturas: a dos ístaros propriamente ditos e a dos gandaios, estes sim arruaceiros e bravateiros em geral.

Tamatich. É o reino dos contos de fadas, o mais clássico reino infantil. Conservador ao extremo, valoriza as formas de linguagem antiquadas, a lenda, o medievalismo e cortesia. Foi por muito tempo o maior reino de todo o Mundo Mirim, antes que a Guerra das Águas o destronasse. Surgiu da união bem sucedida de dois reinos antigos e rivais: Tamma e Ticch. Seus habitantes são considerados requintados, cultos e um tanto esnobes.

As duas regiões que lutam pela independência são:

Eix. Antigo reino de guerreiros fortemente nacionalistas que Ístar conquistou durante a Guerra das Águas. Seu dever à pátria é, muitas vezes, exagerado. São eternos inimigos dos ístaros.

Grínkor. Nome da região administrativa macebol ocupada pela Floresta de Grínkor, habitada por indiozinhos da tribo dos caaporas, que há séculos buscam a independência dessa região, negada pelo governo macebol.

Além disso, as lendas infantis dão conta de que outros reinos podem existir além do Sul Ignoto, embora poucos alguma vez tentaram explorar essa pavorosa região.

E você? Em que reino morava quando criança?

domingo, 10 de julho de 2016

Que sotaque mais esquisito!




Que sotaque mais esquisito!... É assim que o ladrãozinho Wáldron reage ao ouvir pela primeira vez a fala de uma criança proveniente do Tamatich. Na vida real, todos temos estranhamento similar quando ouvimos um falar, um sotaque ou idioma próximo, levemente inteligível. Com algum esforço, é possível entender a maioria das palavras e o contexto completo da frase, mas ressoará vividamente no ouvido uma sonoridade e cadência pitorescas.

Como transpor para o texto esse estranhamento mágico que o som da fala de falantes diversos proporciona?

Em O Rei Adulto, com exceção do povo da mata, todas as crianças falam a mesma língua. Mas há diferentes falares, sotaques e, quanto muito, subdialetos.

Para representar esses falares imaginários num texto escrito, pode-se criar línguas artificiais ou usar o farto material linguístico já existente no idioma no qual a história será contada. Línguas totalmente artificiais representam bem mundos fantásticos e oníricos, mas carecem de apelo ao leitor, dado que seus elementos serão totalmente arbitrários. A segunda opção, por outro lado, quando aliada a algumas criações artificiais, pode representar melhor um conjunto de falares que guardam estreita relação entre si, no universo da história. Esta escolha pode ser melhor compreendida se considerarmos que toda história é em si uma tradução de pensamentos e ideias ao idioma escolhido para representá-la. Assim, ao contar (“traduzir”) O Rei Adulto na (para) a Língua Portuguesa, usei diversos recursos ortográficos, variantes históricas, sociais ou regionais do Português, bem como o Tupi Antigo, língua indígena que tanto enriqueceu o vocabulário do Português do Brasil e me pareceu, assim, adequada para representar o idioma dos caaporas. Grande liberdade foi tomada neste aspecto, no sentido de colorir cada etnia do Mundo Mirim.

São vários os falares que se sucedem na narrativa: o Sulino e o Nortenho (representados, respectivamente, pelo Português Brasileiro e Europeu), o arcaico Tammanor (representado pelo Português do Século XIII), o artificialíssimo Neotamano (que mescla o Nortenho e o Tammanor) e o desregrado Gandaio, adotado pelas crianças que vivem na Gandaia.

Aos poucos Wáldron irá se acostumar à fala dos tamatiscos, até se deparar com uma fala ainda mais arcaica:



Quer saber mais? Acompanhe nosso blog!

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Reinos imaginários




No romance O Rei Adulto, a relação entre a infância e a vida adulta é representada de modo geográfico. O mundo das crianças é dividido em seis reinos: Teres, Guaipur, Landau, Tamatich, Macebólia e Ístar. O mundo dos adultos é dividido em quatro regiões: o Diadia, o Deserto Congelante, as Terras Fantasmais e os Montes Altos. Entre esses dois mundos corre turbulento e bojudo o rio das Lágrimas, barreira física e psíquica que só permite a passagem numa única direção: aquela que leva a criança à vida adulta.

As crianças vivem em fratrias, i.e., famílias compostas apenas de irmãos, em vilarejos e cidades num dos reinos infantis. Cada reino possui característica e cultura próprias, bem como modo de falar ou sotaque. Há uma marcada hierarquia social entre as crianças de cada reino, que define suas ocupações principais. Entre as crianças haverá aquelas da nobreza, do clero, do comércio ou do submundo. Mas, independentemente de classe social, todas brincam e exploram seu mundo, o que dá azo à criação de novas histórias e motivações para outras aventuras.

O mundo das crianças é um tanto plástico e facilmente moldado pela imaginação de seus próprios habitantes: o castigo pode subitamente transformar um cômodo num calabouço insalubre, e numa banheira cheia d'água frequentemente cabe um mar bravio que faz tremerem das pernas os mais destemidos marujos.

A chegada da puberdade traz consigo um sentimento perigoso para as crianças: o tédio. Os atrativos de seu mundo deixam de ser tão cativantes como eram. Em algum momento, elas vagarão sem rumo certo e se verão diante do temido rio. E, mesmo assim, ansiarão por cruzá-lo.

O que acontecerá a elas do outro lado do rio?

Uma vez tendo cruzado o rio, elas não mais conseguirão retornar ao mundo infantil?

Foi para ter respostas a essas questões que Êisdur e seus amigos se lançaram em busca do Rei Adulto. Mas essa busca também pode ser a sua. Talvez você também se tenha perguntado tudo isso alguma vez. Quer acompanhá-los em busca pelo rei?

Bem-vindo ao blog O Rei Adulto!





“O Rei Adulto” é uma fábula sobre as dificuldades que envolvem a passagem da criança à vida adulta. Ambientado dentro do mundo imaginário e fantasioso das próprias crianças, o livro narra a epopéia de Êisdur Árland, um menino de 11 anos e meio que decide descobrir o paradeiro de seu irmão mais velho Eisdras, o qual, tendo chegado à adolescência, abandonou o mundo das crianças. Êisdur acredita que pode localizá-lo com a ajuda do Rei Adulto, personagem lendário de seu mundo, reputado como a única pessoa a ter crescido sem deixar de ser criança. À sua busca, gradativamente unem-se outras crianças: o ladrãozinho Wáldron Gastrano, o cavaleiro Harsínu Sterinax e sua irmã Marsena Sterinax, o jovem mago Áymar Resphel, a tenente Ctara Bergrak e o vigarista arrependido Ernesto Molicári. Juntos, os sete são nomeados Suprapátrias, título raro dado somente àqueles cuja missão seja considerada tão importante para o mundo infantil que seu resultado estaria acima de qualquer questão regional ou nacional.

Mas a missão dos Suprapátrias não é tão simples. Problemas crônicos vêm ameaçando o mundo infantil, o qual, com o passar dos anos, vendo sendo cada vez mais descaracterizado pelo advento de plantas miraculosas chamadas plantas de imaginar, que são usadas como substitutos instantâneos para a faculdade inerente às crianças, sobre a qual os alicerces de seu mundo foi construído: a imaginação. Além disso, nem todos parecem dispostos a facilitar-lhes as coisas. Seu título desperta admiração e reverência em muitos, mas, igualmente, despeito, cobiça ou indiferença em considerável numero de pessoas. Êisdur e seus amigos cedo percebem que terão também que buscar uma solução para o mal das plantas de imaginar, para que ainda tenham um mundo em que viver, após estarem com o rei.

Escrito em português ora brasileiro, ora lusitano, arcaico ou desregrado, além de em tupi e na língua-do-pê, O Rei Adulto possui momentos de intensa aventura, drama e humor afiado. Seu autor é o carioca Helio Jaques, nascido em 1971. Helio é astrônomo, graduado pela UFRJ e doutorado pela USP, e escreveu O Rei Adulto entre 1991 e 2001. Foi pesquisador associado no Departamento de Astronomia da University of Virginia, nos EUA, e atualmente é professor associado e diretor do Observatório do Valongo da UFRJ.

Em dezembro de 2015, O Rei Adulto foi publicado numa pequena tiragem independente de 50 exemplares. Todavia, em parceria com a AZO, pretendemos disponibilizá-lo a bem mais leitores.