Considerei que essa variação precisava ser consistente e soar suficientemente diferente para que o leitor a notasse, mas não tanto a ponto de ser incompreensível. Foi uma decisão trivial adotar para uma o português brasileiro e para outra o de Portugal; bem mais fácil do que garantir que os diálogos estivessem, de fato, escritos nessas variantes.
Hachurada em amarelo, a região onde o neotamano se desenvolveu, junto às duas capitais do novo Reino Unificado do Tamatich. |
A esse dialeto artificial dei o nome de "neotamano", em alusão ao idioma mais arcaico falado em Tamma, o "tammanor".
Embora fosse artificial essa variante, não queria que ela fosse completamente arbitrária, mas sim que refletisse fatos históricos da língua portuguesa. Foi por isso que construí o neotamano (bem como o tammanor) a partir de gramáticas históricas e estudos da evolução do Português.
Algumas das referências usadas para construir o neotamano. |
- A ortografia baseia-se naquela do começo do século XIX, antes da reforma ortográfica de 1911. Desta forma, usa-se palavras com ph, y, cc, ll, etc.
Cabe-me alembrar-vos de que, consoante as ilustres regras do bom-fallar neotammano
- Embora correspondam a um outro período histórico do nosso idioma, a acentuação inclui os acentos diferenciais de timbre introduzidos em 1943 e abolidos em 1971.
Nom creo que teria êsse novo govêrno
- Várias palavras apresentam variações decorrentes de evoluções históricas fictícias que teriam resultado em termos dialetais nos dias atuais. Ex. somana, em vez de “semana”; acaecer, em lugar de “acontecer”; conhoscer, em lugar de “conhecer”.
Alende isso, sempre vivemos às imigas co elles.
- Há distinção entre as preposições por (consequência) e per (instrumento) e suas derivações pelo (a/s) e polo(a/s).
Nom credito que acá só polo prazer da caçada estejais...
- As palavras cujo plural terminam em –ões são escritas no singular com –om (tal como no português medieval). As palavras que terminam em –ães têm no singular –ám. Somente aquelas que fazem plural em –ãos têm –ão no singular.
na condiçom de princeza do Reino Unificado
- A ordem da frase é um tanto irregular, cheia de inversões, tal como no português de 1600. Há uma tendência a colocar no fim o termo principal, geralmente o verbo.
A chave dêste enigma poderia, destarte, em Ístar algures estar
- O uso de pleonasmos, frases feitas e adjetivações desnecessárias é constante. Estes adjetivos frequentemente são incorporações latinas tardias. Ex: os feros animais; seus próceres amigos; mui mestos e peligrosos eventos.
- As subordinações são mais frequentes do que as coordenações.
- Os pronomes de tratamento são parte fundamental da estrutura hierárquica que a língua guarda. O uso de tu, nós, vós, etc, relaciona-se intimamente com a atitude do falante perante o(s) ouvinte(s).
- Há frequentes conjuntos de conjunções adversativas de valor idêntico.
Mas, contudo, todavia, hemos também nós...
- Há três séries de pronomes demonstrativos: este (a) + isto, esse (a) + isso e aquele (a) + aquilo; e duas séries de demonstrativos reforçados: aqueste (a) + aquisto e aquesse (a) + aquisso.
A culpa é daquesse pulcro candeeiro
- O gerúndio é evitado ao máximo. Em seu lugar, usa-se uma locução verbal formada pela preposição a e o infinitivo do verbo.
Peço-vos notícias da estrada e de vosso paiz, porquanto lá estamos a ir.
- O particípio de verbos da 2a Conjugação termina em –udo.
em intensidade a cada dia tem cresçudo
- Quando os pronomes oblíquos o ou a (bem como suas formas plurais) são usados após verbo no infinitivo, o r do infinitivo transforma-se l: fazer + o = fazel-o.
- Os pronomes oblíquos são sempre atraídos por advérbios, palavras de sentido negativo ou conjunções. São usuais as combinações do pronome oblíquo com pronome demonstrativo: mo, to, lho, etc. As combinações de nos + o(s), nos + a(s), vos + o(s) e vos + a(s) produzem, respectivamente, nol-o(s), nol-a(s), vol-o(s), vol-a(s).
- Quando os pronomes demonstrativos o ou a (bem como suas formas plurais) são usados após palavra que termina em vogal nasal, eles se modificam para no (s) ou na (s), independentemente da palavra que o antecede. Se esta palavra terminar em s ou r, eles se modificam para lo (s) ou la (s) e o s ou r cai.
nom no conhocem meus bravosos meninos-d’armas
- Alguns advérbios e conjunções têm formas arcaicas: acá = aqui, alá = lá, assi = assim, quási = quase, ca = que (em sentido concessivo ou explicativo), perém = porém, etc.
- A forma usual do futuro composto com o verbo haver é haver-de + verbo principal no infinitivo.
Há-de perdoar-me, Vossa Valentia, por êsse incómodo malentendimento
- Há uma forma arcaica de pretérito perfeito formada pelo verbo haver seguida do particípio passado do verbo principal. Ex: Há dito = disse.
hoje qual guarda se vestiu e entrar ascondudo há tentado
- Cada verbo possui um particípio presente formado pelo acréscimo de –ante, -ente ou –inte ao tema da respectiva conjugação.
um caçador passante por nossas terras.
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