No primeiro artigo desta série, descrevi como a narrativa de O Rei Adulto foi sendo lentamente desenvolvida em paralelo a eventos da minha vida pessoal. Neste, contarei um pouco sobre a gradativa construção do mapa deste mundo.
Comecei a escrever sem um mapa, em 1991. Afinal, toda a ação de início estava centrada em uma única cidade, que chamei de Birtad (atualmente, Baltar). O primeiro mapa foi rascunhado poucos dias após eu começar a escrever, para representar os topônimos que eu ia criando ao longo dos diálogos. Tal mapa surgiu como uma necessidade para que eu não me perdesse, evitando erros de continuidade, bem como para me guiar com ideias acerca das regiões que poderiam ser exploradas pela aventura.
O primeiro mapa foi feito numa folha de caderno universitário, assim como o texto vinha sendo escrito. Vem daí seu formato retangular característico, que optei por não mudar depois. Nele o Mundo Mirim só tinha fronteira bem estabelecida a Norte, no rio das Lágrimas. Nas demais direções, o mapa não se encerrava, dando a entender que poderiam haver novas terras ou reinos infantis à leste, sul e oeste. Posteriormente, aumentei o litoral a Oeste e adicionei um deserto ao Sul, ficando o Leste limitado por montanhas além das quais nada se conhecia (ao menos entre as crianças do Oeste). O mapa era muito grosseiro, feito em uma única cor, o que logo o tornou de difícil consulta. Decidi substituí-lo por outro um pouco mais elaborado, em que as cores me ajudavam a diferenciar cidades, províncias, reinos, estradas, florestas, etc. Acabei descartando o primeiro mapa, mas guardei todos os seguintes.
Um mapa de mundo imaginário não se constrói inteiro de um dia pro outro. Especialmente no caso em que a história ainda está sendo elaborada, o enredo levará a mudanças que podem afetar a disposição dos elementos de relevo ou os topônimos. Quando o mapa é desenhado pela primeira vez, há uma mundo inteiro a ser nomeado; frequentemente os topônimos disponíveis são mais numerosos do que aqueles que serão efetivamente usados na narrativa. Nesse momento, é muito fácil escolher topônimos que posteriormente nos parecerão insossos, ingênuos ou desagradáveis. A solução é mudá-los por outros que nos soem melhor. Com isso, o mapa acaba precisando ser emendado e corrigido. Em pouco tempo, ele se torna novamente confuso e um outro mapa precisa ser feito, incorporando todas as modificações, as quais também precisarão ser registradas em listas para permitir a consulta frequente e evitar erros de continuidade na narrativa.
Desta forma fui criando um terceiro mapa em 1992, mais enxuto, e depois um quarto mapa -- esse maior e bem mais detalhado, que me guiou na construção da narrativa entre 1993 e 1999.
Em 1997, a aquisição do meu primeiro computador pessoal me levou à digitar toda a história então manuscrita; e comecei também a experimentar produzir outros mapas com a ajuda de algum software gráfico. Dei atenção a mapas "históricos" e regionais, que ainda não tinha desenhados à mão.
Por serem posteriores ao "quarto mapa", os mapas regionais acabaram tendo um pouco mais de detalhes. Um desses mapas regionais, o de Ístar, guiou-me nos capítulos finais escritos entre 1999 e 2001.
Finalmente, em meados de 2001, produzi os mapas desenhados a nanquim que foram incorporados às duas edições independentes já feitas.