Translate

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Dia Internacional da Língua Portuguesa

No dia 5 de maio, comemora-se o Dia Internacional da Língua Portuguesa. A Língua Portuguesa é o sexto idioma mais falado no mundo, sendo língua oficial em 9 países. Além destes, também sobrevive como idioma de pequenas comunidades em cidades da Ásia onde Portugal manteve colônias por vários séculos e nas comunidades de imigrantes lusófonos em outros países.

Notícia de Fiadores (1175), o mais antigo texto conhecido em Português. IAN/TT, Mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto, maço 2, documento 10; 120×327mm


O português possui algumas dezenas de falares e dialetos. Mesmo no Brasil, encontramos uma diversidade de sons, entonação e vocábulário na expressão do idioma. Essa variedade enriquece a Língua Portuguesa, que se  por ser várias dentro de uma, nas palavras de Saramago.

Essa pluralidade da Língua Portuguesa é celebrada ao longo do livro O Rei Adulto, onde emprego formas distintas da Língua Portuguesa para marcar os falares de cada reino infantil. Eis alguns exemplos:

Sulino (baseado no português falado no Brasil)
— Não adianta, Velho! Esse medalhão tá estragado, pô! Que droga! Não tá funcionando!

Nórdico (baseado no português falado em Portugal)
— Oh, sim! Górmis Kiêdlhu, vulgo Uaioé, por falar tão ligeiramente que quase tão-só solfeja vogais, afamado feiticeiro do Oriente. É irmão de meu mestre. Conheci-o quando vivi em Ístar, durante meu aprendizado em magia. Está a dormir em meus aposentos... Aliás, graças a ele estou desperto, pois seu ronco soa para além do tolerável...

Neotamano (construído como um português alternativo, que mescla a fase etimológica do século XIX com algumas construções do século XVI)
— Dizeis vós enchente? A-la-fé, houve um verdadeiro dilúvio! Atá a torre do templo tive de nadar, pero, despois, ai que tudo despareceu! Earamá! Hei-de na estrada morrer de assombros, dês que acá nom fico nem mais um pingote de minuto, ca isso nom é cousa de gente normal, nom...

Tammanor (baseado no português do século XIV)
— Deueras importamte, cõ seu perdom. Uoſſa Ualentia importars’ia de a meu jrmãao mays nouo padrĩhar, qual jrmãao emcorporado aa guarda paaçal oje sera? Seeria aa ſa carreira hũu magnyfico incentiuo tam prestigioso padrĩho teer...

Gandaio (baseado no português falado pelas classes pobres do sudeste brasileiro)
— No cumeço, tinha muito’ zamigo meu aqui no depósito. Hoje, quase todo mundo morreu no campo ou tá quase morreno. Eu ina ficava contente de vê eles pur aqui, mermo qu’eles num falasse cumigo.

Tentei com isso transmitir ao leitor através da escrita um análogo da sensação de estranhamento e reconhecimento que ele teria ao ouvir dialetos de culturas diferentes, embora relacionadas.

Além disso, alguns personagens apresentam particularidades em sua fala, que deixei como "ovos da páscoa" para o leitor identificar. E há histórias paralelas que foram desenvolvidas em torno de brincadeiras ou motivos linguísticos, como o Desafio do Nuncanão, os Montes que Falam e a Lenda dos Bracicípites.

E por falar em livro, celebre esta data lendo algum bom livro. Como diz Carlos Drummond de Andrade: "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede." Não tenha medo de viver com sede!

Um comentário: