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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Etimologia. I. Os nomes dos reinos


Teres, Tamatich, Landau, ... Donde vieram esses nomes? Significam algo?

Felipe Pamplona, um amigo e ex-aluno que teve a oportunidade de ler O Rei Adulto quando ainda este ainda não tinha sido publicado, um dia apresentou-me esta questão. Por que não há nos apêndices do livro comentários acerca da etimologia dos nomes empregados ao longo da história?

A resposta é que não achei que isso fosse interessar à maioria dos leitores. Mas, desde então, um ou outro me perguntou algo parecido. Assim, considerei iniciar uma série de postagens acerca da etimologia de alguns nomes.

Não segui um esquema coeso e homogêneo, como o fizeram Tolkien e George R. R. Martin. Ao contrário, fui muito inconstante na escolha dos topônimos, ora buscando nomes com significado num idioma ou hibridismos, ora buscando apenas nomes que aludissem algo, ou apenas nomes que me soavam agradáveis, mesmo que não tivessem sentido algum. Em alguns casos, os nomes foram modificados mais de uma vez, até que o resultado me satisfizesse.

Nesta postagem, comentarei sobre a motivação para os topônimos mais frequentes no livro: aqueles empregados para nomear os reinos infantis.

Teres. Sendo o reino onde a história se inicia, o topônimo Teres foi o primeiro a ser criado. Nessa época eu ainda planejava escrever uma história diferente, e Teres era o nome pelo qual eu designaria toda região (um continente ou o mundo) em que os eventos transcorreriam. Daí vem o nome Teres: uma alusão à Terra, como se contivesse o significado "essa é nossa terra, nosso lar".

Landau. Este foi o segundo ou terceiro nome de reino que criei. Sua origem se relaciona com a do nome anterior. Da palavra inglesa "land" criei Landau (com pronúncia aportuguesada). Como sou astrônomo, muitos imaginam que o nome Landau venha do físico L. Landau, autor de vários livros-texto usados nos cursos universitários. Porém, a origem dessa terminação -au é o pseudossufixo -aŭ usado em algumas palavras invariantes do Esperanto (por ex: ambaŭ, ankaŭ, laŭ, kontraŭ, etc). Desejando que o nome deste reino tivesse uma terminação incomum, recorri a esse ditongo esperantista.

Guaipur. Criei esse topônimo no mesmo dia que criei Landau. E, novamente, buscava sons ou terminações pouco usuais. Tendo usado a terminação -au, cogitei em outros ditongos agradáveis ao ouvido (ao menos ao meu). De -au, pensei em -ua, e daí para o tritongo -uai, presente em Uruguai e Paraguai. Guaipur surgiu dessa mescla das letras desses dois países da América do Sul.

Tamatich. A origem desse nome é muito simplória: quando eu produzia o primeiro mapa do Mundo das Crianças, em 1992, tocava no rádio uma canção do grupo Kid Abelha e os Abóboras Selvagens intitulada Tomate. Eu provavelmente estava cansado de criar nomes apenas para preencher o mapa em sua primeira versão. Por isso, acabei frivolamente usando o nome da canção para inspirar o nome do reino e anotei: Tomatis (oxítona). Com o tempo, a narrativa fez os protagonistas rumarem para essa região e a denominação Tomatis passou a me incomodar muito. Apesar disso, não o mudei drasticamente; passei a denominá-lo Tamatis. Essa mudança me soou melhor, mas acabou colidindo com o nome Ramatis (uma famosa entidade do Espiritismo). A terceira modificação: a palatalização do S final em CH ([ ʃ ]) provavelmente vício de minha pronúncia carioca me agradou bastante. Anos depois passei a considerar que Tamatich fosse um nome composto, tal como Budapeste, proveniente da união de dois reinos rivais: Tamma e Ticch (CCH seria a fricativa palatal surda [ ç ]). E a partir dessa consideração, muitas outras histórias e ideias foram surgindo, afastando-me definitivamente dos tomates...

Macebólia. Esse foi um nome criado a partir de uma combinação de sons cujo resultado me agradasse. Há vários topônimos criados com base nesse critério e que não significam nada em particular. Eu apenas buscava um nome que tivesse terminação -ólia, para poder ter um gentílico terminado em -ol, similar à dupla Mongólia-Mongol.

Grínkor. Não é um reino propriamente dito, mas sim uma região semiautônoma da Macebólia, bem como o nome da enorme floresta onde vive o povo da mata.


Esse nome é um hibridismo formado pelas palavras inglesa "green" (verde) e latina "cor" (coração). Essa etimologia é bem óbvia: as próprias crianças chamam a floresta de Coração Verde e a mancha da floresta no mapa lembra um grande coração invertido.

Provavelmente esse nome é o que transmite a sensação a alguns leitores de que todos os demais topônimos escondam algum significado. Chamei a floresta de "Coração Verde" como uma analogia ao termo "Pulmão Verde" frequentemente usado para a floresta amazônica. Buscava enfatizar mais a ligação afetiva de crianças com a natureza, por isso substituí o pulmão pelo coração.

Ístar. Esse nome vem de Ishtar, a deusa babilônica. Assim como no caso do Tamatich, usei essa denominação logo na primeira versão do mapa. Desde o começo da história, talvez pela forma das massas de terra que usei no mapa, vi-me preso numa associação involuntária entre esse reino e partes da Ásia Menor. A própria cidade ístara de Lize, situada num avançado estreito de terra entre dois rios, me fazia pensar em Constantinopla.

Eix. Este nome foi derivado por redução. Inicialmente, imaginei um povo muito aguerrido mas historicamente subjugado pelos ístaros. Ao associar Ístar à Ásia Menor, pensei nos antigos hicsos. Deste nome histórico, criei eicsos. E a partir deste último, por redução, nomeei seu antigo reino como Eix.

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