Translate

sábado, 1 de abril de 2017

Etimologia. II. Nomes das províncias


Na primeira postagem desta série, expliquei a origem dos nomes usados para os reinos infantis. Nesta, registro o que me recordo sobre como os nomes das províncias de cada reino foram formados.

Meu mapa inicial, de 1991, não continha nomes de províncias, mas somente nomes dos reinos e algumas regiões (florestas, etc.). O segundo mapa, de 1992, já apresenta alguns nomes de províncias, porém só a partir do terceiro mapa que comecei a me preocupar com isso.

Para os nomes de províncias, tentei ser mais sistemático do que no caso dos nomes de reinos ou cidades e adotei um critério vagamente similar ao que a União Astronômica Internacional usa para nomear acidentes geográficos em corpos celestes: elegi um tema e busquei denominações ligadas a esse tema. Certamente, algumas exceções se imiscuíram, como ficará claro abaixo.

Os temas foram:
Reino Critério de nomeação
Teres Características geográficas, históricas ou culturais
Tamatich Cores, de preferência denominações arcaicas ou pouco frequentes
Guaipur Denominações marítimas ou baseadas numa visão de mundo que privilegia o mar
Ístar Palavras provenientes de gírias ou expressões populares, de preferência adequadas à infância
Macebólia Inicialmente, palavras relacionadas ao coração, devido à floresta de Grínkor.

Posteriormente esse critério foi completamente abandonado e as províncias foram renomeadas segundo um critério linguístico.

As duas províncias habitadas pelos caaporas possuem denominações que fogem desta regra.
Landau Não houve um critério específico

Assim temos, em Teres:
  • Prima, do lat. prima 'começo, início', onde o reino de Teres foi fundado.
  • Bela, do port. bela, caracterizada pela beleza das montanhas nevadas, abundância de cachoeiras e pelo vale do rio Flafir.
  • Fidela, do lat. fidelis 'leal, sincero, em quem se pode confiar', antigo reino de Buldo, é a província que garante a integridade do reino de Teres, pois mantém a defesa das fronteiras setentrionais e orientais, que ficam distantes da capital.
  • Arbórea, do lat. arborea 'relativo a árvore', quase integralmente coberta pelo sul do Bosque Esquecido.
  • Montana, do lat. montana 'relativo aos montes', que compreende a maior parte dos Montes Baixos.
  • Gnômia, do port. gnomo, largamente habitada por seres fantásticos.
  • Deserta, do port. deserto, pois é marcada por um deserto junto ao mar e se funde com as terras áridas do Sul Ignoto.
  • Remota, do port. remota, a província mais distante da capital Venânsi.
  • Anátema, do lat. anathema 'excomunhão'. Corresponde a uma região muito tradicionalista do antigo reino de Tamma. Mesmo após a unificação de Tamma e Ticch, continuou ligada aos valores tammanos. Na divisão territorial do Tamatich, era chamada de Magenta. Foi conquistada por Teres e jamais aceitou isso facilmente. São constantes as rebeliões na província, que passou a se denominar Anátema, para explicitar seu desejo de isolar-se do reino de Teres.
No Tamatich:
  • Blau, Sinople, Goles e Sable: são nomes de cores na heráldica usadas, respectivamente, para o azul, verde, vermelho e preto. Atentando para outros nomes nos mapas percebe-se que na província de Blau situam-se os Prados Azuis e na província de Goles situa-se a Floresta Vermelha. Os demais nomes não têm ligação direta com algum traço geográfico, mas apenas completam a paleta de cores.
  • O Sable, na verdade, é a parte conquistada pelo Tamatich da província macebol denominada Beimir. Informalmente, é o chamado "Corredor Macebol", uma faixa de terra alta marcada por várias cidades pequenas ao longo da estrada que une o norte e o sul da Macebólia.
  • Nívea, do lat. nivea 'de neve', Doiro, do port. 'de ouro', Argenta, do lat. argentea 'de prata' e Ocre completam os demais nomes de províncias tamatiscas.
  • A província guaipurina Púrpura é, na verdade, a antiga província tamatisca de mesmo nome, conquistada durante a Guerra das Águas.
  • O Tamatich também teve no passado uma província chamada Ciano, além da província Magenta (atual Anátema). Ciano também era conhecida tradicionalmente como Selúnia e retomou o nome antigo após ser conquistada por Guaipur.
Em Guaipur:
  • Costa Norte e Costa Sul denominam as províncias costeiras.
  • Condado denomina a província onde o reino de Guaipur teve início. Esse nome é uma referência às terras que Fides recebeu na outra margem do rio (a história de Fides é contada no capítulo 4 do vol. 1 de O Rei Adulto).
  • Púrpura, como explicado acima é originalmente uma província do Tamatich.
  • Terradentro, da aglutinação terra + adentro. Província interna, sem costa.
  • Riacima, da aglutinação rio + acima. Compreende a parte mais alta do interior, na subida do rio que flui dos Montes Baixos e do Bosque Esquecido.
  • Ponta, denomina a província formada por diversos cabos e promontórios. Seu nome é vem de Ponta do Alfageme, nome de um desses acidentes geográficos.
  • Corsários, nome do arquipélago conhecido pela atividade de pirataria.
  • Selúnia. Em meus mapas antigos, essa região era denominada Braço, pois parecia um grande braço de terra separado da região principal de Guaipur. Braço segue a regra para nomes de províncias guaipurinas. Mas o nome não me agradou muito. Por volta de 1995, comecei a criar mapas históricos, para elaborar lendas do mundo infantil. Nesses mapas históricos, o nome da região aparece pela primeira vez como Celúnia, nome que penso ter formado apenas pela sonoridade, buscando palavras com sufixo -IA átono latino. Do que me recordo, a forma Selúnia (com S) foi criada concomitantemente à lenda de Fides, onde há uma alusão ao encontro entre o filho do Sol e a Lua. Assim, a transformação de Celúnia em Selúnia acabou sendo inspirada pela junção de duas palavras que significam Lua: o grego Σελήνη /Selene/ e o latim Luna.
Para a Macebólia, inicialmente imaginei apenas duas províncias, uma ao norte e outra ao sul da floresta de Grínkor. Seus nomes eram Ventrícul e Aurícul. Depois considerei que esses nomes eram muito bobos e busquei outro critério para nomeá-las. Por esse momento, já tinha formado a identidade entre Macebólia e cultura ligeiramente eslavo-germânica. Foi daí que vieram:
  • Beimir. Embora exista a expressão alemã "bei mir" (comigo), o nome Beimir foi escolhido apenas por lembrar fonemas alemães. Não houve em sua adoção nenhuma escolha proposital pelo seu significado.
  • Schless, inspirado no alemão Schloß 'castelo', uma referência a situar-se nesta província a sede do reino macebol.
  • Naron e Torga (e seu nome antigo Astorga) não são germânicos. Neste caso inspirei-me em nomes ibéricos. Naron saiu de um anagrama de Aragón após o abandono de duas letras, e Astorga, do lat. Asturica, é uma cidade espanhola.
  • Grínkor, aglutinação do inglês green 'verde' + lat. cor 'coração', denomina tanto a floresta quanto a província onde vivem os caaporas.
  • Poretama, do tupi poretama 'terra do povo', é como se denomina a província habitada pelos poretés/tobajaras, os caaporas rebeldes que se uniram aos macebóis contra o governo das meninas caaporas (a história dos tobajaras é contada no capítulo 15 do vol. 1 de O Rei Adulto).
 Para Ístar:
  • Gandaia, do port. gandaia 'boa vida, vida de malandro'.
  • Vagau, abreviação do port. vagabundo no sentido de 'que gosta de vida fácil'.
  • Dedel, gíria do português.
  • Toatoa, da aglutinação + à + toa.
  • Beleléu, gíria do português usada para designar algo muito remoto. Denomina a província mais distante.
  • Falatina, referente a falar demais. Denomina a província em que se situam os Montes que Falam.
  • Carussuçu, corruptela de Carusso do Sul, parte da província landauca conquistada pelos ístaros durante a Guerra das Águas.
  • Eix. Na realidade é o nome de um reino conquistado pelos ístaros. Supõe-se que Eix possua províncias, embora eu nunca tenha refletido sobre elas, pois sua estrutura administrativa foi desmantelada pelos ístaros após a conquista.
E no caso de Landau, tal como na Macebólia, inicialmente dividi-o apenas em duas províncias com nomes Landau Sul e Landau Norte. Depois, estes foram abandonados e todo o território dividido em 4 províncias:
  • Carusso do Norte e Carusso do Sul mantém a dualidade Landau Sul e Landau Norte original. Não me recordo da origem do nome Carusso mas não me passa despercebido a associação sonora com russo/rússia, que inclusive inspira aspectos do brasão landauco.
  • Hoxxa vem do nome do herói landauco Brademir Hoxxa.
  • Anguri é um nome cuja etimologia me escapa, pois foi criado há muito tempo e não guardei registros. Tenho a sensação de que ele designaria um tipo de animal da região e creio que o -i tônico final da palavra é um plural, como o plural do italiano. Por muito tempo, convivi com a sensação de que a região de Landau no entorno do Bosque dos Acruxos tivesse animais diferentes, particularmente um tipo de roedor, que as crianças usavam como animal de estimação. Creio que a origem da palavra venha daí.
Como os nomes das províncias foram criados só após alguns capítulos da história terem sido escritos, eles guardam detalhes interessantes sobre as diversas relações que eu ia fazendo à medida que escrevia O Rei Adulto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário