Na primeira postagem desta série, expliquei a origem dos nomes usados para os reinos infantis. Nesta, registro o que me recordo sobre como os nomes das províncias de cada reino foram formados.
Meu mapa inicial, de 1991, não continha nomes de províncias, mas somente nomes dos reinos e algumas regiões (florestas, etc.). O segundo mapa, de 1992, já apresenta alguns nomes de províncias, porém só a partir do terceiro mapa que comecei a me preocupar com isso.
Para os nomes de províncias, tentei ser mais sistemático do que no caso dos nomes de reinos ou cidades e adotei um critério vagamente similar ao que a União Astronômica Internacional usa para nomear acidentes geográficos em corpos celestes: elegi um tema e busquei denominações ligadas a esse tema. Certamente, algumas exceções se imiscuíram, como ficará claro abaixo.
Os temas foram:
Reino | Critério de nomeação |
Teres | Características geográficas, históricas ou culturais |
Tamatich | Cores, de preferência denominações arcaicas ou pouco frequentes |
Guaipur | Denominações marítimas ou baseadas numa visão de mundo que privilegia o mar |
Ístar | Palavras provenientes de gírias ou expressões populares, de preferência adequadas à infância |
Macebólia | Inicialmente, palavras relacionadas ao coração, devido à floresta de Grínkor. Posteriormente esse critério foi completamente abandonado e as províncias foram renomeadas segundo um critério linguístico. As duas províncias habitadas pelos caaporas possuem denominações que fogem desta regra. |
Landau | Não houve um critério específico |
Assim temos, em Teres:
- Prima, do lat. prima 'começo, início', onde o reino de Teres foi fundado.
- Bela, do port. bela, caracterizada pela beleza das montanhas nevadas, abundância de cachoeiras e pelo vale do rio Flafir.
- Fidela, do lat. fidelis 'leal, sincero, em quem se pode confiar', antigo reino de Buldo, é a província que garante a integridade do reino de Teres, pois mantém a defesa das fronteiras setentrionais e orientais, que ficam distantes da capital.
- Arbórea, do lat. arborea 'relativo a árvore', quase integralmente coberta pelo sul do Bosque Esquecido.
- Montana, do lat. montana 'relativo aos montes', que compreende a maior parte dos Montes Baixos.
- Gnômia, do port. gnomo, largamente habitada por seres fantásticos.
- Deserta, do port. deserto, pois é marcada por um deserto junto ao mar e se funde com as terras áridas do Sul Ignoto.
- Remota, do port. remota, a província mais distante da capital Venânsi.
- Anátema, do lat. anathema 'excomunhão'. Corresponde a uma região muito tradicionalista do antigo reino de Tamma. Mesmo após a unificação de Tamma e Ticch, continuou ligada aos valores tammanos. Na divisão territorial do Tamatich, era chamada de Magenta. Foi conquistada por Teres e jamais aceitou isso facilmente. São constantes as rebeliões na província, que passou a se denominar Anátema, para explicitar seu desejo de isolar-se do reino de Teres.
- Blau, Sinople, Goles e Sable: são nomes de cores na heráldica usadas, respectivamente, para o azul, verde, vermelho e preto. Atentando para outros nomes nos mapas percebe-se que na província de Blau situam-se os Prados Azuis e na província de Goles situa-se a Floresta Vermelha. Os demais nomes não têm ligação direta com algum traço geográfico, mas apenas completam a paleta de cores.
- O Sable, na verdade, é a parte conquistada pelo Tamatich da província macebol denominada Beimir. Informalmente, é o chamado "Corredor Macebol", uma faixa de terra alta marcada por várias cidades pequenas ao longo da estrada que une o norte e o sul da Macebólia.
- Nívea, do lat. nivea 'de neve', Doiro, do port. 'de ouro', Argenta, do lat. argentea 'de prata' e Ocre completam os demais nomes de províncias tamatiscas.
- A província guaipurina Púrpura é, na verdade, a antiga província tamatisca de mesmo nome, conquistada durante a Guerra das Águas.
- O Tamatich também teve no passado uma província chamada Ciano, além da província Magenta (atual Anátema). Ciano também era conhecida tradicionalmente como Selúnia e retomou o nome antigo após ser conquistada por Guaipur.
- Costa Norte e Costa Sul denominam as províncias costeiras.
- Condado denomina a província onde o reino de Guaipur teve início. Esse nome é uma referência às terras que Fides recebeu na outra margem do rio (a história de Fides é contada no capítulo 4 do vol. 1 de O Rei Adulto).
- Púrpura, como explicado acima é originalmente uma província do Tamatich.
- Terradentro, da aglutinação terra + adentro. Província interna, sem costa.
- Riacima, da aglutinação rio + acima. Compreende a parte mais alta do interior, na subida do rio que flui dos Montes Baixos e do Bosque Esquecido.
- Ponta, denomina a província formada por diversos cabos e promontórios. Seu nome é vem de Ponta do Alfageme, nome de um desses acidentes geográficos.
- Corsários, nome do arquipélago conhecido pela atividade de pirataria.
- Selúnia. Em meus mapas antigos, essa região era denominada Braço, pois parecia um grande braço de terra separado da região principal de Guaipur. Braço segue a regra para nomes de províncias guaipurinas. Mas o nome não me agradou muito. Por volta de 1995, comecei a criar mapas históricos, para elaborar lendas do mundo infantil. Nesses mapas históricos, o nome da região aparece pela primeira vez como Celúnia, nome que penso ter formado apenas pela sonoridade, buscando palavras com sufixo -IA átono latino. Do que me recordo, a forma Selúnia (com S) foi criada concomitantemente à lenda de Fides, onde há uma alusão ao encontro entre o filho do Sol e a Lua. Assim, a transformação de Celúnia em Selúnia acabou sendo inspirada pela junção de duas palavras que significam Lua: o grego Σελήνη /Selene/ e o latim Luna.
- Beimir. Embora exista a expressão alemã "bei mir" (comigo), o nome Beimir foi escolhido apenas por lembrar fonemas alemães. Não houve em sua adoção nenhuma escolha proposital pelo seu significado.
- Schless, inspirado no alemão Schloß 'castelo', uma referência a situar-se nesta província a sede do reino macebol.
- Naron e Torga (e seu nome antigo Astorga) não são germânicos. Neste caso inspirei-me em nomes ibéricos. Naron saiu de um anagrama de Aragón após o abandono de duas letras, e Astorga, do lat. Asturica, é uma cidade espanhola.
- Grínkor, aglutinação do inglês green 'verde' + lat. cor 'coração', denomina tanto a floresta quanto a província onde vivem os caaporas.
- Poretama, do tupi poretama 'terra do povo', é como se denomina a província habitada pelos poretés/tobajaras, os caaporas rebeldes que se uniram aos macebóis contra o governo das meninas caaporas (a história dos tobajaras é contada no capítulo 15 do vol. 1 de O Rei Adulto).
- Gandaia, do port. gandaia 'boa vida, vida de malandro'.
- Vagau, abreviação do port. vagabundo no sentido de 'que gosta de vida fácil'.
- Dedel, gíria do português.
- Toatoa, da aglutinação tô + à + toa.
- Beleléu, gíria do português usada para designar algo muito remoto. Denomina a província mais distante.
- Falatina, referente a falar demais. Denomina a província em que se situam os Montes que Falam.
- Carussuçu, corruptela de Carusso do Sul, parte da província landauca conquistada pelos ístaros durante a Guerra das Águas.
- Eix. Na realidade é o nome de um reino conquistado pelos ístaros. Supõe-se que Eix possua províncias, embora eu nunca tenha refletido sobre elas, pois sua estrutura administrativa foi desmantelada pelos ístaros após a conquista.
- Carusso do Norte e Carusso do Sul mantém a dualidade Landau Sul e Landau Norte original. Não me recordo da origem do nome Carusso mas não me passa despercebido a associação sonora com russo/rússia, que inclusive inspira aspectos do brasão landauco.
- Hoxxa vem do nome do herói landauco Brademir Hoxxa.
- Anguri é um nome cuja etimologia me escapa, pois foi criado há muito tempo e não guardei registros. Tenho a sensação de que ele designaria um tipo de animal da região e creio que o -i tônico final da palavra é um plural, como o plural do italiano. Por muito tempo, convivi com a sensação de que a região de Landau no entorno do Bosque dos Acruxos tivesse animais diferentes, particularmente um tipo de roedor, que as crianças usavam como animal de estimação. Creio que a origem da palavra venha daí.
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